Sabrina (1995)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 15 março 2024

Um remake totalmente dispensável, por muitas qualidades que possa ter, e que tem!

Antes de mais, permitam-me que diga que eu não sou um daqueles que pensa que podem ou devem existir filmes intocáveis, que pelo seu valor ou relevância nunca devam ser alvo de revisita ou remake. “Sabrina”, o filme original protagonizado por Audrey Hepburn e Humphrey Bogart, é um clássico consagrado e o seu lugar nunca estará em causa. Porém, após ter visto este remake moderno, não posso deixar de considerar que foi desnecessário. Apesar de ser um bom filme, não consegue ser melhor que o original, não é minimamente diferente e não foi capaz de actualizar a história original. Realmente, não sei onde Sidney Pollack foi capaz de pensar que isto era uma boa ideia.

A história deste filme, assim como uma grande quantidade dos diálogos, são decalcados do original a papel químico, quase sem modificações essenciais. De facto, as frases mais marcantes dos diálogos estão todas lá, as situações são as mesmas. Onde o filme tenta ser melhor é, essencialmente, nos altos valores de produção e na actualização de uma série de detalhes sem grande relevância. Por exemplo, a jovem Sabrina já não vai para Paris a fim de se tornar uma chef, mas para trabalhar como assistente na revista “Vogue”. E claro, os cenários, os locais de filmagem, os adereços, tudo nos remete à contemporaneidade e é feito com o máximo bom gosto, desde a escolha da mansão à sede corporativa Larrabee. E sendo Pollack um director consagrado e de grande prestígio, não surpreende muito que a cinematografia e a banda sonora também sejam excelentes: ele foi capaz de ir buscar os melhores. Por exemplo, a banda sonora é assinada por John Williams e, se de facto não é um trabalho marcante do compositor, não deixa de ter a qualidade a que nos habituou.

Quanto ao elenco, Pollack também apostou em grandes actores, com créditos firmes e um sólido percurso na sétima arte. Os três grandes protagonistas são Julia Ormond, Harrison Ford e Greg Kinnear, e este último é talvez a aposta mais arriscada do director. Ormond e Ford dão-nos, cada um ao seu jeito, interpretações sólidas e consistentes. Porém, se no filme original quase não se notava a enorme diferença de idades entre Bogart e Hepburn, isso foi gritante aqui e é extremamente bizarro ver Ormond a namoriscar com um homem que parece ser pai dela. E com uma agravante: Ford não é, nunca foi, um actor particularmente talhado para tramas românticas, não é um terreno confortável para ele. Em consequência, a química romântica de Ford e Ormond assemelha-se a uma parede no meio deles. Greg Kinnear faz o que pode, mas não tem o carisma forte necessário ao ‘playboy’ David. O filme conta ainda com as contribuições de John Wood, Nancy Marchand, Lauren Holly e Paul Giamatti.