A Hora da Escuridão (2011)

Written by Filipe Manuel Neto on November 24, 2023

Bom CGI, boas cenas de acção, bom som, Moscovo é um lugar interessante, mas tudo o resto é tão fraco e estúpido que não vale a pena ver este filme duas vezes.

Eu decidi ver este filme ontem, quando ele passou na TV, mas curiosamente eu estava à espera de ver outro filme com um título similar feito em 2017. Seja como for, não dei o meu tempo por perdido: apesar de eu não ter grande predilecção por filmes de invasões alienígenas, o filme é bastante dinâmico, tem boas cenas de acção e uma boa quantidade de CGI de alta qualidade, e por isso é, pelo menos, uma peça de entretenimento que não nos arrependemos de ver, mas que não ficaremos desejosos de rever.

Vamos começar pelas coisas boas: ao contrário do habitual neste tipo de filmes, as cenas passam-se em Moscovo, a megalópole russa. O filme foi feito em 2011, muito antes de termos ostracizado o país devido às agressões à vizinha Ucrânia e numa altura em que os russos pareciam desejar integrar-se mais na Europa e ter mais contacto com os ocidentais. Isto foi uma verdadeira lufada de ar fresco porque em filmes sci-fi quase só vemos cidades norte-americanas. Acredito, também, que o facto de o filme ter sido filmado na Rússia foi uma opção estratégica para a produção poder filmar a custos mais reduzidos.

Além de fazer um uso inteligente das localizações de filmagem (que incluem a Praça Vermelha e o Centro Comercial GUM), o filme oferece-nos uma dose maciça de CGI de alta qualidade, que podemos ver em maior glória quando os seres alienígenas aparecem pela forma como vão brilhando e interagindo com objectos eléctricos. No entanto, todo o filme é um festim de CGI e efeitos visuais. Os efeitos de som também são muito bons e as cenas de acção e de fuga são divertidas o suficiente para manter o filme em movimento.

E infelizmente, as coisas boas acabam aqui. Tudo o resto é tão recheado de falhas e vários problemas que tornam o filme pouco merecedor de uma segunda oportunidade. Isto é só a minha opinião, mas acho que todos concordaremos num ponto: há imensos filmes sobre invasões alienígenas e não é preciso pensar muito para nos lembrarmos de dois ou três que encostam este filme às cordas.

O filme é dirigido por Chris Gorak, mas parece que ele estava mais fascinado com o CGI e a acção do que a tentar dirigir os actores. Assim, temos um elenco bastante jovem que é deixado à própria sorte e que vai interpretando as personagens de acordo com o que lhe parece mais adequado. Emile Hirsch fez um trabalho excelente em “Into the Wild”, pouco antes deste filme, mas tinha uma personagem sólida e foi bem dirigido. Aqui, ele não tem nada disso: o resultado é uma interpretação morna, vaga, sem vida nem personalidade. O seu parceiro Max Minghella, que tinha acabado de fazer “A Rede Social”, não foi uma boa escolha para a personagem. Ele é um daqueles actores que é “sempre a dama de honra e nunca a noiva”, digamos assim: a sua falta de presença e carisma afastam-no das personagens mais centrais, embora seja uma opção para papéis de apoio. Joel Kinnaman é estupidamente fraco como vilão. Ele porta-se como um rufia de liceu, não vai além disso em nenhum momento, e a personagem dele é fina como papel. Olivia Thirlby também faz pouco pelo filme, com uma personagem que se limita a parecer atraente e que esperamos ver aos beijos com um dos rapazes em algum momento. Pior sorte teve Rachael Taylor, que é irritante a ponto de dizermos aleluia quando a personagem dela morre por fim. E o elenco russo? Não conheço nenhum dos actores, mas até gostei um pouco de Veronika Vernadskaya. Infelizmente, o elenco russo parece estar lá apenas para vermos os russos como durões permanentes, uma nação de Rambos a cavalo com metralhadoras. Putin com certeza gostou de ver isso num filme ocidental.

Tão mau quanto o elenco e o seu desempenho, o roteiro copia momentos e elementos de diversos filmes de sci-fi (“Cloverfield”, por exemplo) para criar uma história onde não há qualquer sentido lógico ou sensação de ameaça real. É realmente lamentável que, com um CGI tão bom e locais de filmagem tão bem escolhidos, o filme seja incapaz de causar um único calafrio de tensão no público. Além de uma história bastante fraca, há diversos momentos em que o filme parece estar a fazer troça da nossa inteligência: Moscovo é um dos lugares mais densamente povoados do mundo: faz sentido que, mesmo após a cidade ser devastada no primeiro ataque, haja apenas cinco ou seis pessoas a vaguear pelas ruas? Ver um avião comercial despenhado num centro comercial é impactante, mas onde foram parar as suas asas? E porque não há fogo, destroços ou explosões derivadas do embate no local? O filme termina com um submarino nuclear a zarpar do Rio Moscovo, um dos rios que atravessa a capital russa. Porém, não é preciso ser moscovita ou sequer russo para ver que aquele curso de água não tem profundidade ou largura para a manobra de uma coisa tão grande! Pensar que o público vai acreditar em coisas destas é insultuoso.