Manhattan (1979)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 6 outubro 2023

Na sombra de “Annie Hall”.

Decidi ver este filme na semana passada, após a visita que o próprio Woody Allen fez ao meu país, com a sua banda ‘jazz’ e uma interessante palestra na Cinemateca Nacional só para convidados. Apesar de já ter visto vários filmes do director e até nem o considerar mau, sempre me pareceu um daqueles directores que é sobrevalorizado. Ganhou o Óscar de Melhor Director e foi nomeado para o galardão umas quantas vezes, mas a verdade é que, depois de “Annie Hall”, ele parece ter feito vários filmes usando a mesma premissa e baseados, de forma exclusiva, em casais com problemas.

Após ter visto “Annie Hall”, eu achei difícil ver este filme sem sentir que Allen estava a plagiar a si mesmo e a apostar na mesma fórmula para tentar sucesso igual. Para o efeito pretendido, foi um êxito e é difícil encontrar um crítico profissional de cinema que diga que “Manhattan” é um filme pobre, uma cópia mastigada de um bom filme que rendeu a Woody Allen a estatueta dourada. Mas é aquilo que eu sinto, e os críticos profissionais e fãs de Allen que me perdoem, se puderem.

No filme, Allen parece representar quase a si mesmo, num registo similar ao que vimos em “Annie Hall” e que também passa, como habitualmente, por humor pouco ortodoxo e um aparente prazer em falar de sexo. Diane Keaton faz um trabalho muito bem feito e é, de longe, a melhor actriz presente neste filme, mas até mesmo isso acaba por não ser uma justificativa cabal para ver este filme em detrimento de outros, muito melhores, do mesmo director. Os actores secundários não ajudam muito: querem aparecer e ser parte do projecto, e isso parece bastar-lhes.

Tecnicamente, o filme tem alguns pontos de valor: considerando o ouvido musical deste director, não me surpreende que a banda sonora seja um dos pontos onde Allen desejou deixar uma marca de gosto pessoal. E sendo ele um nova-iorquino nato, é evidente que o filme é um trabalho de amor em que vemos o carinho que Allen nutre pela sua terra de origem, a qual está impedido de visitar devido a questões do foro judicial. Manhattan foi tratada de modo carinhoso, surgindo em todo o seu esplendor mítico e fascinante, e a música de George Gershwin não podia ser mais bem escolhida, e mais agradável. Todo o trabalho de edição funciona muito bem, ainda que o filme seja um pouco lento. Só há uma coisa que eu não compreendo: porque decidiu Allen filmar a preto-e-branco e com tanto grão na cinematografia? A pergunta fica sem resposta.