Cinema Paradiso (1988)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 3 abril 2023

Magnífico.

Vi este filme pela primeira vez há uns bons anos atrás, mas só agora resolvi falar sobre ele, após o ter visto novamente. Para mim, é um dos melhores filmes italianos já feitos. É como se fosse um conto de fadas moderno, que nos mostra o lado fascinante do cinema, e que nos leva a recordar porque é que gostamos dele. Claro, tudo passa, e o cinema já viveu muitas fases, foi sofrendo metamorfoses, e o fim das grandes salas de cinema clássicas foi uma delas. E agora? A pandemia mostrou-nos que o cinema pode aprender a sobreviver sem as suas salas. E se nós considerarmos o fabrico de televisores e sistemas sonoros cada vez mais “cinematográficos” e economicamente viáveis? Será que um dia a sala de estar será a nossa sala de cinema privada, com todo o conforto e qualidade da grande tela?

O futuro é uma incógnita, e tem tanto de maravilhoso quanto de assustador, mas vamos deixar de lado estas divagações. Todo aquele que gostar de cinema deve ver este filme. Tem uma boa dose de nostalgia, pode emocionar o público (a mim emociona-me) e faz-nos pensar na vida. É um pouco difícil explicar, acho que é um daqueles filmes que consegue tocar algo pessoal em quem o vê, e isso não é fácil de transpor para o papel porque não há vidas iguais. Vale a pena, também, ir vendo as várias películas que surgem nas telas do Paraíso, e que são homenagens muito justas a vários filmes conhecidos.

O elenco conta com nomes muito fortes. É dos melhores filmes da carreira de Phillippe Noiret, que nos brinda com um trabalho tão bom que bem podia ter sido indicado ao Óscar de Melhor Actor naquele ano. O jovem Salvatore Cascio também faz um excelente trabalho e é crível no seu papel. Enzo Cannavale e Marco Leonardi também fazem um trabalho excelente. A direcção de Tornatore é virtualmente impecável.

Tecnicamente, o filme é igualmente notável: além de recriar com rigor as épocas em que tudo se passa, mostra com perfeição a evolução técnica do cinema, e a forma como o próprio lugar – Giancaldo – vai mudando com o tempo. A escolha dos locais de filmagem foi criteriosa, todo o trabalho com os adereços, os figurinos e cenários foi meticuloso e a cinematografia é muito bonita. A edição não merece qualquer reparo, principalmente se estivermos a falar da versão estendida do filme. Ennio Morricone, com o seu trabalho neste filme, dá-nos uma das melhores bandas sonoras da sua carreira, vale a pena ouvir cada melodia.