Carros 3 (2017)

Written by Filipe Manuel Neto on February 3, 2023

O fim de uma franquia que, realmente, nunca valeu muito a pena o nosso interesse.

Nunca tive realmente vontade de ver os filmes da franquia “Carros”. Como já disse anteriormente, eu já era adulto quando surgiram, e senti particularmente a força quase invasiva da máquina de propaganda que, por todas as vias, nos tentava impingir o filme, quase da mesma forma que as Testemunhas de Jeová vão a casa das pessoas tentar vender a sua visão da religião. “Carros” estava em toda a parte, e o "merchandising" envolvido era, por si só, um negócio bilionário. Por isso, eu preferi não ver o filme. Não gosto de sentir que me estão a impingir coisas à força. Vi agora este filme, o último da trilogia.

Comparar este filme com o primeiro da franquia pode ser considerado um esforço honesto. Os dois filmes são bastante parecidos, ainda que o primeiro tenha um ascendente, pela novidade. Quanto ao roteiro e à história propriamente dita, ambos são clichés completos: se um nos fala do sucesso de um “outsider” novato, cheio de nobreza e vontade de ganhar, o terceiro filme já nos mostra que tudo tem um fim, e que há que saber sair de cena e dar o lugar a outros de modo honroso e digno. É a eterna questão da passagem das gerações e dos seus conflitos. No meio destes dois filmes, “Carros 2” está totalmente deslocado, bastando para isso ter por protagonista uma personagem que apenas apareceu alguns minutos no primeiro filme. “Carros 3”, por muito cliché que seja, reencontrou alguns méritos e valores do primeiro filme.

Mesmo assim, e apesar do sucesso comercial e de crítica, não creio que seja honesto comparar nenhum filme da franquia “Carros” com os filmes “Toy Story”, “Altamente” ou “Divertida Mente”. Nesses filmes, a Pixar apostou na criatividade, isto é, na criação de uma história original e personagens muito originais. Isso nunca aconteceu em “Carros”. Basta pensarmos na enorme quantidade de desenhos animados que incluem, ainda que de modo acessório, carros falantes. É uma ideia velha, que a Pixar meramente recauchutou e abrilhantou, com técnicas de animação CGI que domina como poucos. Simplesmente, foi uma maneira de ganhar rios de dinheiro com pouco esforço.

Neste filme, voltamos a ter o brilhantismo técnico, a atenção aos detalhes visuais e a nitidez e qualidade da animação digital a que a Pixar nos habituou. Seria mau demais que o estúdio não conseguisse honrar os seus créditos e fracassasse até nisto! Além das animações magníficas, o trabalho de mistura, de som e de edição foi, realmente, levado muito a sério e feito por bons profissionais. O trabalho dos actores de voz também não merece qualquer reparo, com a volta de Owen Wilson e de outras vozes marcantes, a que se juntou Cristela Alonso. Todos estiveram bem, num trabalho impecável.

Se já falamos do roteiro, resta-nos falar da comicidade: o filme ensaia diversas tentativas para o humor, e se as piadas parecem bem colocadas na trama, a verdade é que quase não têm força ou impacto, e simplesmente não fazem rir. Não são engraçadas. As tentativas de emocionar ou comover o público também falharam totalmente, em boa parte devido à pobreza franciscana das personagens, meramente esboçadas e pouco capazes de captar a nossa simpatia.