Mamma Mia! (2008)

Verfasst von Filipe Manuel Neto am 6. August 2022

Com um bom elenco e uma banda sonora invejável e apelativa, o filme prometia ser excelente… mas acabou por se revelar bastante mais mediano do que eu imaginava.

Em primeiro lugar, eu creio que preciso de fazer uma nota a esta minha análise: eu não posso dizer que sou um fã dos ABBA, mas a verdade é que eu tenho um grande carinho pela banda e pelas suas músicas, porque eram músicas que eu me lembro de ouvir na TV quando era criança, e de gostar delas. É uma memória de infância, que tem uma carga sentimental, e que não pode ser avaliada de modo totalmente neutro (as memórias da infância nunca nos deixam neutros).

Eu tenho ainda de dizer que tinha grandes expectativas para o filme. Não falo apenas da música e das várias canções que eu me recordo de ouvir, mas também da enorme qualidade do elenco seleccionado para o projecto, e da participação activa de elementos da banda na produção. Era algo que prometia ter grande qualidade. Bem, o filme tem as suas qualidades, é inegável, mas a verdade é que notei alguma preguiça e desleixo na produção, em vários aspectos.

O maior problema do filme foi a ausência de um roteiro bem escrito, que se prestasse a sustentar a acção e as canções. Além da enorme quantidade de clichés de filmes de Verão, o roteiro copiou um filme italiano antigo chamado Buona Sera Mrs. Campbell, cuja acção assenta na duvidosa parentalidade da filha da protagonista, interpretada por Gina Lollobrigida. Não posso dizer que estamos numa situação de plágio porque há muitos filmes sobre filhos que desconhecem os pais, mas a pouca originalidade é assinalável. Além disso, o filme parece quase fazer a apologia da promiscuidade sexual! Em meio a um ambiente descomplicado, leve, “hippie”, o filme coloca a mãe da personagem principal numa situação embaraçosa: ela é mãe solteira de uma filha que cresceu sem conhecer o pai porque há três possíveis “candidatos”, com os quais ela se envolveu quase em simultâneo! E prefiro não falar daquela cena onde uma mulher madura flerta com um rapaz muito mais jovem do que ela!

Saltando da Broadway para Hollywood, Phyllida Lloyd assegurou um esforço sincero na direcção, ainda que não excelente. Ela não conseguiu exigir mais da sua equipa, permitiu uma concepção muito pobre das personagens e a escolha dos actores não foi de todo feliz a partir do momento em que eles tiveram de cantar. As melhores escolhas assentaram em Amanda Seyfried e Meryl Streep, duas actrizes sólidas, carismáticas, expressivas e com excelente voz. As cenas em que as duas são protagonistas, falando ou cantando, são das melhores do filme, que foi uma excelente aposta que Seyfried fez na sua carreira. Stellan Skarsgard esteve razoavelmente bem, mas senti que ele tinha pouco para fazer, tal como Colin Firth, sendo que o actor inglês, dono de uma voz que não é particularmente agradável, me pareceu já uma escolha duvidosa para um musical. No entanto, ele parecia uma diva de ópera quando comparado a Pierce Brosnan ou Julie Walters. O ex-Bond tem uma enorme dificuldade com os agudos e canta quase em falsete, e Walters não consegue cantar sem começar aos gritos.

Tecnicamente, o filme também não é brilhante. Pela positiva, temos a cinematografia elegante, com o sol, o mar e a beleza cénica das ilhas gregas a favorecerem os visuais (temos de concordar que os locais de filmagem foram maravilhosamente usados), e ainda os cenários e figurinos bem concebidos. Mas o prato forte do filme é a banda sonora, evidentemente, com uma abundante lista de canções dos ABBA, tão famosas que podemos cantar o filme inteiro. Todavia, a inserção de cada música no filme deixa a desejar, algo que, associado a coreografias um pouco artificiais, nos deixa com a sensação de que o filme é quase um videoclipe gigantesco, com o roteiro a ser apenas uma desculpa para as várias músicas se apresentarem, sucessivamente.