O Lado Bom da Vida (2012)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 6 julho 2022

Um excelente filme.

Confesso que este filme foi melhor do que eu estava à espera. Eu pensei que ia encontrar uma simples comédia romântica, convencional e relativamente previsível, mas fiquei muito satisfeito com a forma como a história se desenvolve e com a concepção das personagens. O diretor, David O. Russell, é também o responsável por O Último Round, um filme que ganhou dois Óscares, mas que eu penso não ser tão bom quanto este.

O roteiro está, a meu ver, bastante bem escrito, e acompanha Pat, um homem que acaba de sair de um hospital psiquiátrico onde cumpriu uma pena de alguns meses, após apanhar a sua esposa em flagrante de adultério e agredir violentamente o amante dela. Com o casamento acabado, vai para casa dos pais, sendo que o pai dele é um fã maluco da equipa de futebol americano da cidade e parece estar convencido de que ter o filho perto durante os jogos dá sorte à equipa. Em meio às suas tentativas para se aproximar da ex-mulher (que lhe impôs por lei uma providência cautelar), ele aproxima-se de Tiffany, uma jovem viúva, de temperamento forte e modos muito explosivos, a qual se propõe ajudá-lo em troca de ele ser o par dela num concurso de dança.

A história é muito boa, e está cheia de peripécias decorrentes da volatilidade da personalidade de Pat e de Tiffany. As personagens, interpretadas de modo convincente e muito empenhado por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, são complexas e exigentes, e foi muito bom ver a forma como os dois actores foram encarando o desafio e dando solução ao que tinham pela frente. De resto, Lawrence ganhou o Óscar pelo trabalho feito neste filme que, de resto, teve outras sete nomeações — Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Actor Secundário, Melhor Actriz Secundária, Melhor Director, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Além do duo de actores principais, o filme conta com um excelente elenco secundário onde pontificam o impecável Robert DeNiro, a maravilhosamente contida e maternal Jacki Weaver e, ainda, o casal disfuncional e estranho interpretado por Julia Styles e John Ortiz.

No meio de tantas coisas boas há alguma coisa menos boa ou eventualmente má? Eu penso que sim. Apesar de gostar bastante do filme no geral, sinto que o final ficou um pouco cliché, e que a solução encontrada é um pouco convencional demais para um filme que parece querer dar-nos algo diferente da maioria das comédias românticas a que estamos acostumados. Também achei que há algumas personagens que acabam por não ter a devida atenção (Julia Styles, John Ortiz, num subenredo que fica muito esboçado e subdesenvolvido). Mas são pontos que acabam por não tirar valor ao filme, críticas e reparos de menor relevância.

A nível técnico, eu gostaria de destacar pela positiva a excelência da cinematografia, com o filme a tirar partido das boas localizações de filmagem na cidade de Filadélfia, e da edição, que torna o filme agradável, dando-lhe o ritmo adequado. Bons cenários e figurinos (em particular o que é reservado para Lawrence, com um visual algo depressivo) completam os valores positivos de uma produção discreta, sem grandes efeitos nem artifícios visuais.