Quatro Casamentos e um Funeral (1994)

Escrito por Filipe Manuel Neto el 24 de abril de 2022

Uma comédia romântica popular e que fez muito sucesso, mas que não é totalmente perfeita e nem sequer particularmente engraçada.

Creio que não podemos menosprezar ou esquecer a importância deste filme para o cinema britânico, para a sua projecção internacional e para a sua reputação. Desde que foi lançado até hoje, tem sido um dos filmes britânicos mais amados e respeitados, além de ter sido um êxito de bilheteiras, um sucesso junto da crítica especializada e um vencedor de prémios. Indicado a dois Óscares (Melhor Filme e Melhor Roteiro Original), venceu três BAFTA (Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Actriz Secundária) e foi o primeiro filme inglês a vencer o conceituado Prémio César, da academia francesa. É um palmarés considerável para um filme de orçamento muito baixo, e que contou com uma boa dose de improviso e criatividade.

Mesmo assim, não posso dizer que me sinta satisfeito com o filme. Talvez o erro seja meu e as minhas expectativas fossem muito altas, mas sinto que é mais sisudo e menos engraçado do que eu esperava. Eu sei que o humor britânico é bastante peculiar, mas eu até gosto desse tipo de humor, e eu sinto dificuldade em encontrá-lo neste filme, onde os casamentos se sucedem uns atrás dos outros. O roteiro foca a sua atenção na dinâmica romântica entre personagens, e nós vemos que elas se vão conhecendo e relacionando, com o filme a exibir o resultado no casamento seguinte, sem se fixar em ninguém em particular com excepção da personagem principal, um solteirão. A ideia é original, mas cansativa e, para uma série de pessoas, o filme não vai ser mais que uma sucessão de casamentos pomposos. Também não gostei muito da história entre Charles e Carrie: eles não se conhecem, não são propriamente amigos, mas têm relações sexuais após dois dos casamentos do filme, e isso acontece antes de sequer terem realmente sentimentos românticos… isto é, antes do amor vem o sexo, e isso é algo que eu, realmente, não aprovo, chamem-me moralista se quiserem porque estou-me nas tintas. Penso que o roteiro deveria ter previsto isso, criando para as duas personagens um passado comum, como namorados antigos ou colegas de escola…

Hugh Grant é a estrela deste filme, e usa aqui de todo o charme de solteirão britânico que lhe garantiu o sucesso noutras comédias românticas: um rosto bonito, sorriso tímido, uma voz que gagueja nervosamente antes de se fixar e dizer as falas no roteiro, olhos que parece não quererem fixar-se em ninguém em particular. Consigo entender porque o actor se tornou tão popular, particularmente entre as mulheres com uma queda por tímidos de sotaque muito acentuado. E devo reconhecer que o actor cumpriu muito bem com o que lhe era pedido e deu à personagem a tónica adequada. Andie McDowell, por sua vez, não me parece tão genuína na sua personagem e parece-me velha para o papel, além de que a sua química com Grant não funciona (gostei mais da intensidade e espontaneidade de David Haig e Sophie Thompson, eles parecem dois coelhos no cio, mas também parecem apaixonados e envolvidos o suficiente). O filme conta ainda com boas participações de Simon Callow, John Hannah, Kristin Scott Thomas, Rowan Atkinson. Há muitos outros actores britânicos conhecidos por aqui, mas em papéis que são razoavelmente menos notáveis. Todo o elenco, no geral, prima por interpretações contidas e os diálogos têm muitas vezes algo de filosófico, nas divagações das personagens sobre como é o amor, e o casamento. Há algo de sonhador nisso, mas o filme não aprofunda o tema.

Tecnicamente, o filme tem muitos pontos interessantes a considerar, começando por uma boa cinematografia, que aproveita bem as variações climatéricas e a chuva inglesa. Os locais onde as gravações foram feitas foram muito bem escolhidos, embora a pompa dos casamentos, com dúzias de flores, chapéus, vestido, fraques e cartolas, faça o público pensar se realmente todas aquelas pessoas são ricas ou aristocratas, ou simplesmente decidiram falir para pagar tudo. O filme conta ainda com uma banda sonora discreta, mas eficaz, e onde algumas canções mais conhecidas acabam por merecer o destaque.