As Confissões de Schmidt (2002)

Written by Filipe Manuel Neto on মার্চ 26, 2022

Uma comédia? Sinceramente não concordo… mas é um dos filmes mais poderosos de Jack Nicholson.

Não vou dizer que gostei realmente deste filme porque há imensos detalhes que me deixaram verdadeiramente decepcionado com ele. Porém, devo reconhecer que é um trabalho de grande mérito, em larga medida graças ao empenho e carisma de Jack Nicholson.

O roteiro adapta um romance que nunca li e aborda a figura de Warren Schmidt, um homem já idoso, que trabalhou a vida toda numa companhia de seguros, e que acaba de se reformar, tendo sido substituído por um ‘yuppie’, que ele instintivamente despreza. Além disso, ele vive há mais de quarenta anos com a sua esposa, a quem sente já não amar como dantes. Também a relação com a sua filha Jeannie não é mais a mesma: ela foi viver longe e vai casar-se com um sujeito que parece um idiota perfeito, e que ele detesta. Schmidt é, assim, um homem insatisfeito com a sua vida, consigo mesmo, que sente que fracassou em tudo e tem raiva de tudo isso. Porém, o filme vai acompanhá-lo por uma espécie de catarse, onde ele irá reavaliar a própria vida e o que construiu com ela. De permeio, ele vai escrevendo cartas profundamente íntimas para uma criança africana de seis anos, a quem conta os seus mais íntimos pensamentos.

O roteiro tem uma ideia muito boa e vai trabalhando com ela da maneira que pode, mas não é um filme necessariamente alegre, de modo que chamar-lhe comédia pode ser algo forçado… é um filme com momentos cómicos, mas que não é cómico em si. É demasiado sombrio, lento e melancolicamente filosófico para ser uma comédia. Há, ainda, momentos e situações de que não gostei nada: uma delas é a ênfase na avareza de Schmidt, caracterizadora de um espírito algo mesquinho. Mas o que realmente mais me irritou foi o final aberto, súbito e tão repentino que senti que o filme tinha sido cortado antes do fim.

O maior trunfo deste filme é Jack Nicholson. Eu não consigo idealizar um actor mais competente para esta personagem ácida, sarcástica, depressiva e mesmo assim engraçada. O desempenho do actor foi perfeito e impecável. Ele dá-nos um espectáculo dramático aqui, com uma miríade de sentimentos, emoções e fases de ânimo pelas quais a personagem dele vai passando. Ao seu lado, o filme coloca bons actores como Hope Davis, Dermot Mulroney, Kathy Bates ou June Squibb, mas eles não fazem mais do que dar ao actor o apoio de que ele precisa no seu trabalho.

O filme tem uma boa cinematografia, que faz um uso bastante inteligente dos locais de filmagem por onde passa. É um filme algo sombrio, visualmente falando, e isso está em harmonia com a personagem principal. O filme não tem grandes efeitos, deixa para o actor e a narrativa todo o espaço necessário para captarem a nossa atenção, e a banda sonora também não acrescenta nada de relevante.