Superman III (1983)

Written by Filipe Manuel Neto on November 11, 2021

O fundo do poço para o Super-Homem.

Após ver Super-Homem II, eu pensei que a franquia não podia piorar… enganei-me. Apesar de manter alguns pequenos méritos, este filme é bastante pior e realmente não deve ter deixado saudades aos envolvidos, especialmente a Christopher Reeve. De facto, o actor chegou mesmo a equacionar não participar do filme, e a sua participação só foi garantida no último minuto, tal como eu descobri ao cabo de algumas leituras, que fiz depois de ter visto o filme.

Para mim, este filme tem a pior concepção de roteiro que eu vi, nos filmes do Super-Homem. Na prática, o filme é um duelo entre o herói e um vilão rico, Webster. Inicialmente, ele quer afastar a concorrência do café colombiano influenciando o clima da região através de um satélite, comandado por ele graças a um hacker que descobriu nas suas próprias empresas. Quando o super-herói lhe arruína os planos, ele passa persegui-lo para o matar e afastar do seu caminho. Em meio a isto, o herói ainda tem tempo para ir a um encontro de ex-alunos do seu antigo liceu, onde reencontra uma velha chama, a ex-rainha do baile de finalistas, Lana.

A franquia perdeu o pé após a saída de Richard Donner e não há nada que possa livrar o filme de ser considerado terrivelmente mau. A trama é surreal de tão má, irrealista e falsa. O herói, até agora visto como um poço de integridade, e em teoria apaixonado por Lois Lane (que neste filme virtualmente desaparece), é quase colocado na cama de outras duas mulheres, no que podemos considerar uma enorme falha moral. Eu podia dar vários exemplos de outras situações e momentos sem lógica nem sentido, mas seria redundante.

Reeve faz o que pode no papel do Super-Homem, mas o actor empenhou-se pouco, não estava realmente no projecto de corpo e alma e a performance dele reflecte essa falta de vontade em estar ali. Ele limita-se ao básico e não brilha. Annette O’Toole também consegue honrar o básico, mas não tem como dar-nos muito mais. Richard Pryor é moderadamente engraçado, mas quase não tem sucesso na tarefa de nos fazer rir. Jackie Cooper e Robert Vaughan também não trazem qualquer brilho ou carisma para o filme. Pamela Stephenson é irritante e Margot Kidder quase foi despromovida para o trailer, posto que só aparece durante uns cinco minutos.

Tecnicamente, o filme possui algumas (poucas) virtudes redentoras, tais como a cinematografia bastante bem concebida, a edição satisfatoriamente conduzida e o ritmo leve e relativamente rápido do filme, que evita cansar o público com uma duração excessivamente longa. Também a banda sonora esteve razoavelmente bem, muito embora as peças musicais mais famosas que ouvi sejam basicamente as mesmas de todos os filmes do Super-Homem. Há ainda uma ou duas cenas dignas de antologia pelo seu impacto e notoriedade, tais como a luta entre o ego e o alter-ego do Super-Homem. Infelizmente, o filme não vai muito além disto: os cenários não são muito bem feitos, há muitos efeitos visuais e especiais baratos e pouco credíveis, e o filme parece, no geral, mais barato e falso do que os antecessores.