Payback - A Vingança (1999)

Filipe Manuel Neto 写于 2021 年 08 月 25 日

Um excelente filme que recupera o estilo ‘noir’.

Este filme fez-me recordar muito os filmes ‘noir’ do passado, pelo seu estilo e pela forma como as personagens se comportam e desenvolvem. O filme desenvolve-se num ambiente em que a inocência simplesmente não existe: todos têm um segredo, um negócio sujo, uma actividade ilícita, são criminosos ou prostitutas. No geral, é um filme bastante bom, que cumpre tudo o que promete, mas que caiu no esquecimento com o passar dos anos.

O roteiro demora um pouco a desenvolver-se, mas acaba por se tornar mais interessante com o tempo: temos um ladrão profissional, Porter, que é enganado pelos companheiros (a esposa dele e um amigo) após roubar uns mafiosos chineses e deixado para morrer enquanto eles fogem com a parcela dele do dinheiro. Quando consegue recuperar-se, decide ir até às últimas consequências para se vingar e para recuperar o dinheiro dele.

Dirigido por Brian Helgeland, o filme parece um daqueles thrillers antigos com um anti-herói de quem conseguimos gostar e que, apesar de ser um bandido, sabe agir com integridade e ter honra em meio aos demais. Basta referir que a personagem principal quer apenas o dinheiro da parcela roubada e não o bolo todo, ou mais do que isso, e isso é-lhe oferecido em mais do que uma ocasião. O filme tem uma história muito boa, algo lenta no começo, mas agradável no geral, e cheia de acção e momentos de humor irónico e inteligente. O ritmo é bom, o filme tem energia e teve uma boa edição.

Mel Gibson é o homem do filme. Além de ser um protagonista agradável e de ter feito o filme numa altura excelente da sua carreira como actor (ainda gozando da popularidade conseguida com os filmes Arma Mortífera), ele imprime um enorme carisma e charme à personagem. Ao seu lado, temos um Gregg Henry implacável e durão que merece a nossa atenção. Gostei ainda do trabalho de William Devane, no papel de um mafioso elegante e sofisticado, e de Lucy Liu, que deu vida a uma prostituta ‘dominatrix’ sarcástica e que, é bastante evidente, foi divertida de interpretar para esta consagrada actriz. Infelizmente, as duas principais mulheres do filme — Rosie de Bello e Deborah Unger — não conseguem sair da mediania e ir além do registo cliché da “femme fatale” do filme ‘noir’ tradicional.

A nível técnico, é um filme elegante e agradável. A cinematografia apresenta cores lavadas e uma luz suave que, pessoalmente, me fez lembrar o visual a preto-e-branco que é a imagem de marca do género ‘noir’. O ambiente é soturno, enquanto o filme se movimenta por garagens, ruas estreitas e ambientes marginais, onde o crime acontece, para subir ao escritório luxuoso do padrinho mafioso ou à mansão bem mobilada de um patrão do crime com gostos caros. O filme recria tudo isto com habilidade através de excelentes cenários e figurinos bem feitos. Há alguns efeitos visuais, especiais e sonoros de boa qualidade, mas o filme é bastante comedido no seu uso. A banda-sonora, cheia de temas jazz, ajuda muito na construção do ambiente.