O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 26 junho 2021

Revisitar e desmistificar Jesse James.

Filmes com temática Western não são o meu forte, mas de vez em quando entretenho-me a ver alguns. Este foi um dos mais recentes que vi, e não fiquei desiludido. O enredo centra-se na figura histórica de Jesse James, assassino e bandido que ficou para a história dos Estados Unidos e foi, durante a sua vida, um ícone social e cultural. Falar dele e da sua imagem é algo que ainda suscita paixões e aceso debate histórico. Este não é o espaço para averiguar da veracidade de tudo o que se diz dele, mas podemos dizer desde já que é uma figura em constante revisão, e que este filme foi capaz de resistir à tentação de seguir a mitologia de James, dando-nos um retracto mais historicamente exacto da personagem.

O roteiro não nos dá uma perspectiva global sobre a vida de James, mas permite-nos ver como ele acabou morto à traição pelos irmãos Ford, membros do seu próprio bando. O filme, dirigido por Andrew Dominik, é um drama lento, em que o ritmo e a duração de quase três horas vão seguramente afastar o público mais irrequieto. Há momentos de acção, mas são pontuais, e todo o filme se concentra em construir e em desenvolver as personagens, especialmente Robert Ford.

O elenco é notável e é encabeçado por Brad Pitt, num dos melhores trabalhos da sua carreira enquanto actor, pelo menos aos meus olhos. Ele é impressionante e dominador, e a sua presença preenche a tela e rouba as atenções com um carisma forte e uma capacidade dramática notável. Também Casey Affleck se revelou inteiramente empenhado no seu trabalho e foi feliz na maneira como fez reviver Robert Ford. Não podíamos exigir mais ou melhor a estes actores. Além deles os dois, o filme conta ainda com boas performances de Sam Shepard, Sam Rockwell e Paul Schneider.

Tecnicamente, é um filme incrível, começando por uma maravilhosa cinematografia, nítida, muito bem focada, com um uso inteligente das cores mais escuras e das paisagens. A cena da chegada do comboio, à noite, é uma das mais visualmente impressionantes que vi em algum tempo. Os cenários e os figurinos também fazem muito bem o seu papel, e pareceram-me incrivelmente rigorosos e respeitadores da época e contexto histórico. A banda sonora adequa-se muito bem ao resultado final.