Os Três Mosqueteiros - Os Diamantes da Rainha (1973)

Written by Filipe Manuel Neto on February 14, 2021

Uma comédia de erros.

Confesso que esperava uma coisa mais séria deste filme, mas que também não me surpreendeu o que encontrei. De todas, a década de Setenta é, para mim, aquela onde os filmes foram piores e mais desagradáveis. Isso inclui comédias como esta, carregadas de alusões sexuais evidentes e de humor forçado, que envelheceu tão mal que acabou virtualmente no esquecimento. O roteiro é sobejamente conhecido e adapta para o cinema, outra vez, o romance de Alexandre Dumas em que um aspirante a Mosqueteiro precisa travar uma conjura palaciana em torno da rainha francesa, Ana.

O filme tenta ser engraçado, mas é horrível. Ao optar pelo humor fácil e pastelão, com alusões sexuais constantes e diálogos cheios de duplos sentidos, o filme estragou-se. As cenas de luta são terríveis: todos lutam como se nunca tivessem visto uma espada, estivessem bêbados ou apostados em desmantelar metade do cenário caindo-lhe para cima. Algumas personagens, tais como Planchet ou Bonacieux, são despidas de dignidade e transformadas em palhaços. Os Três Mosqueteiros, que deviam ser lutadores experimentados, parecem fantoches pomposos e até o próprio D’Artagnan parece-se mais com um adolescente idiota, que pensa com o membro viril e não com a cabeça. Eu poderia ainda mencionar o facto de Constance ser, originalmente, filha de Bonacieux e não uma esposa ardente e adúltera casada com um velho… mas vale a pena?

O melhor do filme é, curiosamente, o seu elenco luxuoso, cheio de nomes que eram sonantes à época. O problema é que nenhum deles recebeu bom material e não são capazes de mostrar o seu talento! Todas as personagens carecem de desenvolvimento e soam pior do que numa peça escolar. Começando pelo melhor, posso destacar Christopher Lee, que nos deu um Rochefort frio, digno, cavalheiresco e elegante; Faye Dunaway é igualmente contida e ameaçadora como Milady; Charlton Heston parece bastante apagado, mas ainda satisfatório num Richelieu que soa muito envelhecido; Geraldine Chaplin faz o que pode, mas às vezes parece perdida por ali; Simon Ward e Georges Wilson também se saíram bem, mas não têm muito para fazer e Oliver Reed é bastante digno quando não está a fazer comédia ou a fingir-se de bêbado. Feitas estas ressalvas positivas, o que sobra é desastroso. Michael York é imaturo; Jean-Pierre Cassel é um idiota; Roy Kinnear e Spike Miligan cansam o público com tantas piadas sem graça; Frank Finlay e Richard Chamberlain quase desaparecem do filme e Raquel Welch parece ter sido escalada para o papel com base no tamanho dos seios e na sua capacidade para os mostrar, em decotes ou através de um tecido mais fino.

Tecnicamente, o filme tentou – e conseguiu – trazer para a tela a beleza da primeira fase do Absolutismo Régio. Filmado em Espanha – curiosamente, a terra natal da rainha Ana, uma das personagens principais – aproveita muito bem os magníficos locais de filmagem, como o Palácio de Aranjuez e o Alcácer de Segóvia. Os figurinos são bons, detalhados, parecem historicamente credíveis e vão ao encontro do imaginário de Dumas. Claro que há situações absurdas, tais como o xadrez de cães ou aquela espécie de “festa branca” no final (eu pensava que as festas brancas eram coisa de discotecas decadentes com luz negra a mais). A cinematografia corresponde ao estado da arte na época e está bastante datada, mas eu lidei bem com isso. A edição não é uma das mais subtis, com os cortes a serem, por vezes, bastante evidentes. A banda sonora esforça-se para ser épica, mas detestei ouvi-la “mastigar” temas como a marcha triunfal da ópera Aida, de Giuseppe Verdi.