A História Sem Fim 2 (1990)

Written by Filipe Manuel Neto on November 29, 2020

Muito longe do filme inicial.

Para quem adorou o filme original, como eu, é muito difícil engolir esta sequela, que parece ter sido feita para ganhar dinheiro à custa do sucesso do primeiro filme. A história passa-se uns anos depois do primeiro filme e conta como Bastian vai regressar ao reino de Fantasia, o qual está novamente ameaçado por outra força destruidora: o Vazio, controlado pela perversa Xayide.

Para começar, quem tiver visto o primeiro filme com atenção sabe que Bastian, apesar de ler o livro e vivenciar, com grande realismo, a aventura, não chega a penetrar em Fantasia a não ser já muito perto do final. Portanto, parece-me um pouco forçado falar num verdadeiro regresso dele a Fantasia quando foi Atreyu o verdadeiro herói do filme anterior. Além disso, a trama é uma cópia do primeiro filme, com a ameaça invisível a destruir o reino e a imperatriz a pedir ajuda. Uma trama tão escassa que quase não justifica um filme longa-metragem, o que se reflecte imediatamente no ritmo vagaroso e nas voltas que dá para preencher o tempo.

Apesar de as personagens do filme serem basicamente as mesmas que vimos no filme anterior não há virtualmente um único actor da primeira produção aqui, com excepção da curta aparição de Thomas Hill, de volta ao papel de Koreander. O elenco, geralmente, fez um trabalho satisfatório, mas o mau material e o roteiro desinteressante foram factores que impediram o brilho dos actores. Assim, Jonathan Brandis deu a Bastian um ar forçosamente mais velho e foi feliz no seu esforço da mesma forma que Ken Morrison, que interpretou o papel de Atreyu. A forma como ambos contracenaram é convincente e as cenas onde entram em conflito são a melhor parte do filme. Igualmente boa foi a participação de Clarissa Burt, que deu vida à vilã de uma maneira muito boa e cheia de cinismo. Alexandra Johnes deu vida à Imperatriz, mas quase não faz mais do que aparecer.

Tecnicamente, o filme tenta ser semelhante ao seu antecessor e seguir-lhe as passadas, mas é quase impossível. Apesar de a cinematografia, bastante datada, ser satisfatória o bastante e estar dentro do que poderíamos esperar encontrar, é um filme muito menos incrível, do ponto de vista visual, sobressaindo apenas quando mostra as paisagens de Fantasia, particularmente a magnífica Cidade de Prata, que realmente é maravilhosa e linda de ver. O castelo de Xayide é um tanto quanto imaginativo demais, mas eu lidei bem com isso. Mais difícil foi engolir aquela carruagem, que parece um cruzamento de um Austin Mini com uma abóbora. Algumas das criaturas que adorámos (Rock Biter, Falcor, etc.) voltam a aparecer, mas menos adoráveis e muito menos bem-conseguidas visualmente. Mas ainda pior são os gigantes, simplesmente idiotas, e uma espécie de pombo gigantesco que fala e que é tão irritante que tive vontade de o enfiar no forno. Os efeitos fazem o que precisam de fazer, a maquilhagem e figurinos foram realmente bons. Gostei especialmente do recurso às máscaras venezianas para os habitantes da Cidade de Prata, penso que foi realmente um momento de grande beleza visual. A banda-sonora, de Robert Folk, é excelente e faz um trabalho muito bom, incluindo novamente a flauta de pan e com uma sonoridade que se assemelha à banda sonora do filme inicial. O uso da canção de Limahl nos créditos finais também me pareceu uma boa ideia.