X-Men: O Confronto Final (2006)

Scritto da Filipe Manuel Neto il 6 ottobre, 2020

Podia ter sido melhor.

Não estou muito acostumado a filmes que tenham por tema personagens do universo da banda desenhada, mas a qualidade e o impacto que alguns têm tido torna-os visita obrigatória. Assim, e mesmo sem conhecer muito acerca das personagens ou das suas histórias ficcionais, decidi ver os filmes da franquia X-Men. Essa decisão foi seguida de alguma leitura acerca das personagens e dos filmes. Procurei seguir mais ou menos a sequência cronológica dos acontecimentos começando pelas prequelas e continuando, a fim de melhor compreender o que estava a ver. Assim, este filme, que foi o terceiro da franquia, foi o quinto filme que vi.

Neste filme, assistimos à tentativa governamental norte-americana para administrar uma cura aos mutantes. Além de o assunto ser claramente fracturante entre a comunidade mutante (se uns aceitam bem a ideia de se tornarem pessoas normais, outros consideram isso insultuoso), é bastante evidente que o Governo tem interesse em administrar massivamente a cura e tirar de cima dos ombros uma eventual ameaça mutante. Como habitual, Charles Xavier defende a abordagem diplomática ao problema, enquanto Magneto vê tudo como mais uma agressão dos “homo sapiens” contra os mutantes, a que urge dar resposta cabal. A ele vai aliar-se Jean Gray, por sua livre vontade, após ganhar nova vida através do seu lado negro: Phoenix.

Este é o terceiro filme da franquia e dá continuação lógica à história começada anteriormente. Porém, senti que é um filme muito menos coerente e uniforme do que os dois predecessores, na medida em que o roteiro, a história contada, tem bastantes pontos bons e alguns pontos francamente maus e que sinceramente não consigo perdoar. Gostei da forma densa e sombria com que tudo se desenvolve e como o clímax é gradualmente construído. É um filme que se sente mais épico, como alguém que quer realmente ser levado a sério: não se notam tantas notas cómicas e tiradas de humor nos diálogos e o único romance que interessa é a paixão de Wolverine por Jean, dado que acaba pessimamente. Mas pelo lado negativo o ritmo é muito mais apressado que nos filmes anteriores, com algumas sequências que senti serem em passo de corrida. Há muitas personagens novas mas a maioria não tem interesse para a história e só foi adicionada para aparecer uma ou duas vezes. E há várias situações que fazem levantar um sobrolho de incredulidade no espectador mais receptivo: para mim o ponto mais inverosímil foi a “ressurreição” de Jean Gray e a forma como ela passa a ser uma vilã temível. Isso foi algo que eu simplesmente não engoli.

O elenco é massivamente herdado dos filmes anteriores e é composto por grandes actores. A maioria, portanto, já está familiarizada com as personagens. No entanto, nota-se uma queda grande na qualidade do trabalho global do elenco. Isso só pode ser consequência de um mau trabalho dos roteiristas, Simon Kinberg e Zak Penn. Patrick Stewart, Hugh Jackman, Famke Janssen, Rebecca Romijn e Sir Ian McKellen desembaraçaram-se bem com o que lhes foi dado e o trabalho de cada um deles foi importante para a qualidade do filme. Kelsey Grammar foi excelente como Beast e Ellen Page brilhou no papel de Kitty; Shawn Ashmore e Aaron Stanford são excelentes juntos mas medianos quando separados; Anna Paquin fez o que podia mas está pouco à vontade nas cenas de luta; Halle Berry é muito insossa e desinteressante; Vinnie Jones é um brutamontes idiota; Ben Foster e Daniel Cudmore não têm tempo para fazer nada.

Além destes méritos, o filme tem excelentes valores de produção que importa salientar. É um filme da Marvel e há imensos milhões de dólares envolvidos, o que é bastante evidente desde o início. Visualmente é um espectáculo por si só, com grandiosos efeitos visuais e o melhor CGI que o dinheiro podia comprar. As cenas e sequências de acção são grandiosas mas, quando se exagera nos efeitos, as coisas têm tendência a tornar-se inacreditáveis, como se estivéssemos a ver um jogo de vídeo. Isso é bastante claro na sequência final, em Alcatraz. Tal como sucedeu no primeiro filme, o filme mantém excelentes cenários e figurinos. A cinematografia é boa e usa bem a cor e a sombra para tornar o filme mais sombrio. O trabalho de edição foi decente, mas desigual e o ritmo do filme é por vezes bastante rápido. Creio que é justo saudar também o departamento de maquilhagem e a banda sonora de John Powell, bastante bem conseguida.