Diário de um Jovem Médico (2012)

Filipe Manuel Neto tarafından a 9, 2020 tarihinde yazılmıştır.

Uma excelente série que, pela sua crueza e pelo humor negro, vai desagradar a muita gente.

Sou pouco dado a séries ou mini-séries, mas por vezes dou-lhes uma chance. E fiquei muito feliz por ter feito isso com esta pequena mini-série de duas temporadas, cada uma com quatro episódios curtos. Foi baseada muito ligeiramente nos textos, profundamente sarcásticos e até um pouco auto-biográficos, de Mikhail Bulgákov, um autor russo muito pouco conhecido que se formou em medicina e veio a ser uma voz profundamente crítica ao regime comunista russo, características que podemos ver bem nesta série.

A série centra-se na figura do Dr. Vladimir Bomgard, jovem médico recém-formado na melhor escola médica do Império Russo, com um currículo académico de fazer inveja a qualquer um, mas que é enviado para dirigir um hospital no meio do gelo da Sibéria em 1917, meses antes do eclodir da Revolução Russa. Além das saudades do mundo civilizado que, para ele, Moscovo representa, o jovem vai ter de enfrentar a rivalidade do seu antecessor, Leopold Leopoldovich, forçando-o a lutar para se estabelecer e se afirmar. Ao mesmo tempo, iremos ver factos que decorrem décadas mais tarde, quando o já prestigiado Dr. Bomgard é investigado pelas autoridades comunistas e vai reler as páginas do seu diário de juventude. Numa viagem mental, o maduro e renomado médico volta então ao passado para ajudar o seu “eu” mais jovem nas dificuldades por que atravessou, especialmente o seu terrível vício em morfina.

A série é muito boa, apesar de o seu humor negro e profundamente sarcástico decididamente não agradar a todos os públicos. Muitas pessoas vão considera-la simplesmente bárbara ou até de mau gosto. Cada episódio revela o quão desumana podia ser a medicina há pouco mais de cem anos atrás, num lugar onde faltava de tudo, a ponto de um médico, por melhores que as suas intenções pudessem ser, se comparar a si mesmo com um carniceiro. Também gostei da forma como ego e alter-ego discutiam e, por vezes, brigavam, à medida que o médico adulto e maduro tenta impedir que o jovem faça asneiras ou seja um estúpido insensível.

O elenco é dominado por Daniel Radcliffe e Jon Hamm, no papel das duas versões da mesma personagem: o jovem médico e o mesmo médico, mais maduro. Radcliffe é perfeito para a sua personagem e sabe muito bem como ser sarcástico e cruel sem deixar que isso nos impeça de simpatizar com a personagem dele. Por sua vez, Hamm não é tão uniforme… se na primeira temporada ele é rude nas coisas que diz e na forma brutalmente dura e insensível com que encara a realidade, irá revelar-se mais sensível e palatável na segunda temporada. Do elenco de apoio, eu destacaria especialmente, pela positiva, Adam Godley e Rosie Cavaliero. Também gostei da performance de Margaret Clunie na segunda temporada.

Tecnicamente, é uma série que não sobressai. Tem uma cinematografia agradável e aproveita bem os excelentes cenários e figurinos de época que vai construindo. Achei que o figurino da personagem Natasha era lindo, mas também algo imaginativo e inverosímil, na medida em que a personagem está demasiado elegante e bem vestida para uma aristocrata que perdeu tudo e está em fuga do seu país. As imagens em CGI, em particular as paisagens, não me pareceram muito realistas, mas aparecem apenas pontualmente. A banda sonora, por sua vez, é realmente muito boa, fica no ouvido e tem uma sonoridade que nos lembra, realmente, a Rússia e a cultura russa.