Annabelle 3 - O Regresso a Casa (2019)

Written by Filipe Manuel Neto on August 9, 2020

Annabelle rendeu-se ao terror para adolescentes.

Se os filmes anteriores sobre a boneca Annabelle se voltaram muito para a sua origem e para a história da boneca, e de como ela poderia fazer mal a quem a possuísse, este filme esquece tudo isso e volta-se para o casal Warren, que deteve em sua posse o objecto amaldiçoado por décadas, sempre cuidadosamente guardado sob todas as precauções para nunca mais fazer mal a mais ninguém. Claro, dado que os filmes anteriores renderam bom dinheiro aos estúdios, este filme foi feito a pensar em mais algum encaixe financeiro. Ainda assim, tem qualidade o suficiente para merecer a nossa atenção.

A acção do filme centra-se no período imediato à aquisição da boneca pelos Warren, e cria uma interessante história assustadora em que duas amigas, uma delas encarregada de tomar conta da jovem filha dos Warren durante uma ausência dos seus pais, irão enfrentar o terror e o mal dentro da casa dos próprios demonologistas, e coadjuvadas pela criança de que deviam tomar conta e que, curiosamente, mostra maior maturidade do que elas em muitas ocasiões.

Muito semelhante aos filmes Conjuring, funciona como um spin-off e teve dois filmes que o precederam: o primeiro revelou-se muito mau, o segundo, cuja qualidade foi melhor, conta uma história totalmente diferente do primeiro. Aqui, o que temos é um filme que cumpre o que promete e traz uma história que consegue assustar mas conta pouca coisa. Basicamente, introduz-nos todas as personagens, o quadro geral, leva-nos para o interior da casa e pronto. Mesmo assim, esta casa está longe de ser aproveitada. Convenhamos! A casa é a gruta do Aladino dos objectos amaldiçoados e, ainda que alguns tenham surgido e tido a sua história revelada, sentimos que não são plenamente aproveitados.

O elenco é dominado pelas interpretações de Mckenna Grace, Katie Sarife e Madison Iseman. As três actrizes fizeram um trabalho satisfatório e, apesar de não terem brilhado muito dada a má qualidade das suas personagens, totalmente cliché, foram capazes de dominar o filme por inteiro por falta de um elenco verdadeiramente bom. O filme conta ainda com a participação de Michael Cimino mas a sua personagem, bastante cómica, destoa do ambiente geral e torna o filme mais leve do que deveria. Vera Farmiga e Patrick Wilson voltam a dar vida aos Warren mas aqui servem apenas de elo de ligação com os filmes Conjuring e limitam-se a serem pai e mãe, sem mais. Sinceramente, em certos momentos o filme parece um cruzamento invulgar de Conjuring com Gritos, ou qualquer outro filme de terror para adolescentes.

Tecnicamente, é um filme com altos e baixos. Tem um ritmo bastante desigual, demorando para se construir e apressando bastante depressa as partes mais assustadoras, que deveriam ter sido mais cuidadosamente construídas, sempre em crescendo de suspense e de medo, e ocupar mais tempo no filme. O ambiente poderia ter sido mais assustador e tenso se não fosse pontualmente cortado por dispensáveis momentos de humor ou de reflexão filosófica sobre a morte e o bem vs. mal. Além disso, o final é simplesmente demasiado súbito e decepcionante. Falta atingir um clímax. Percebemos claramente que o director e o roteirista não souberam bem como dar um fim a esta história sem matar ninguém. Tem uma boa cinematografia e bons cenários e figurinos. Os efeitos sobrenaturais também são bons e a música é assustadora mas está tão semelhante ao que podemos ouvir em Conjuring que parece reciclar parte da sua banda sonora.