Procurado (2008)

Written by Filipe Manuel Neto on June 14, 2020

Espalhafatoso, barulhento, estridente, cheio de acção irrealista… e pouco mais.

Este filme de acção é daqueles filmes difíceis de avaliar. Após o ter visto, senti que tem muito de satírico e de crítico na forma como conta a sua história. O problema é que tem pouco para contar e compensa essa falha com toneladas de acção, um ritmo rápido e bastante dinheiro, como os adolescentes e o público mais jovem geralmente gostam.

O roteiro conta-nos a história de Wesley Gibson. Ele não é feliz e vive uma existência medíocre onde não ele passa de um fracassado funcionário de escritório, debaixo das ordens de uma chefe obesa e prepotente. Ele vive num apartamento medonho e tem uma namorada linda que o trai ostensivamente com o melhor amigo, que também trabalha no mesmo escritório. O facto é que Wesley tem poucas esperanças de melhorar a sua condição de vida, então acaba por ir suportando a mediocridade até que conhece uma bela mulher que lhe diz que ele é filho de um famoso assassino que acaba de ser morto. Apesar de custar a acreditar, ele decide que precisa de saber mais acerca disso e, ao aperceber-se da realidade, deita toda a sua vida de antes ao lixo e sai com estrondo. Agora é hora de ele seguir as pisadas do pai, tornar-se um assassino quase infalível e vingar a morte dele.

Não é a primeira vez que o cinema nos traz a história de alguém que, vivendo de uma maneira medíocre e infeliz, arranja forma de "partir a loiça" e dar a volta por cima, tomando o controlo da vida nas mãos. Houve algumas pessoas que se lembraram da trilogia Matrix e, de facto, essa trilogia faz precisamente isso, apesar de as semelhanças com este filme não passarem daí. Apesar de toda a crítica social ao nosso modo de vida e às pessoas que se acomodam com a vida sensaborona de todos os dias, o roteiro é bastante fraco na medida em que é irrealista e a trama parece mais fina do que os panos de algodão tecidos na tecelagem do filme. A história do "tear do destino", então, soa totalmente idiota, ou mesmo infantil. Se a fraternidade fosse de bibliotecários, eles iriam matar baseados na altura das lombadas dos livros nas prateleiras? O ponto forte do filme são as altas doses de acção, por vezes muito irrealista, com lutas incríveis e cenas de perseguição de tirar o fôlego, onde todos escapam ilesos por um fio de cabelo. Só mesmo em filmes!

Timur Bekmambetov assegurou uma direcção mediana, dando-nos um filme coerente mas que poderia ter sido muito melhor nas mãos de um director mais exigente e minucioso. James McAvoy é um bom actor e já deu provas em filmes anteriores, mas tem pouco para fazer aqui além de apanhar porrada, correr, irritar-se e parecer confuso. O filme nunca lhe deu uma chance de mostrar o que vale. Angelina Jolie tem um dos papéis mais importantes da trama, mas o que ela faz é, pura e simplesmente, copiar boa parte do que fez em Tomb Raider, Mr. And Mrs. Smith e Salt, numa interpretação desinteressante e preguiçosa que não acrescenta nada à carreira dela mas que deve ter recheado a conta bancária dela nalguns milhões. Morgan Freeman também não me pareceu nada de especial, mas sobressaiu pela positiva ainda assim, dado que a maior parte do elenco nos brindou com más interpretações ou versões preguiçosas de trabalhos feitos anteriormente.

Tecnicamente, é um filme muito visual, que aposta num ritmo rápido para o público se deixar levar e não ficar a pensar muito na trama. A cinematografia é essencial para esse efeito, com cenas curtas e rápidas, constantemente passando de uma câmara para outra, de um ponto de vista para outro. O uso da luz e da sombra parecem-me adequados também. Os efeitos de som são estridentes e, quando combinados com uma banda sonora bastante rock, tornam o filme um pouco barulhento e espalhafatoso. O CGI e as imagens de câmara lenta ajudam nas cenas de acção, mas a partir de certo ponto tudo parece tão fantasioso que nos desligamos disso e esperamos que acabe.