Sherlock Holmes (2009)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 31 março 2020

Uma nova concepção de Sherlock Holmes

Neste filme, Sherlock Holmes, e o seu companheiro de aventuras Dr. Watson, enfrentam a ameaça de um vilão, mestre ocultista, que foi executado por vários assassinatos mas misteriosamente volta à vida. Confesso que não sou um particular fã de Sherlock Holmes. Li os contos e histórias de Sir Arthur Conan Doyle e achei-os interessantes mas sempre preferi outros autores e personagens. Todavia, resolvi ver este filme e dar-lhe uma chance, dado que é uma personagem que raramente se vê em cinema.

Tenho de confessar que a famosa série "As Aventuras de Sherlock Holmes", de meados da década de Oitenta, marcou muito a minha forma de imaginar as personagens. Nessa série, Jeremy Brett deu vida ao detective de uma maneira que, penso eu, é a que está mais próxima da concepção original do autor e mais de acordo com o cavalheiro vitoriano. Este filme, todavia, mostra-nos um Sherlock Holmes muito moderno na sua forma de agir, falar e de se comportar. A personagem age como alguém do nosso tempo, só que encaixada num período histórico dissonante, criando um anacronismo. Contudo, surpreendentemente, isso não me afectou minimamente. Não que eu seja um apreciador de anacronismos - não sou, e muitas vezes critico filmes de época precisamente por causa disso - mas a forma como este filme foi idealizado tornou isso aceitável.

De facto, este filme não é a adaptação de nenhum dos livros ou contos originais. Aproveita apenas as personagens e cria uma nova história com elementos de aventura, acção e até um aroma de sobrenatural, muito ao gosto dos vitorianos, supersticiosos e muito soturnos. Se este filme fosse uma adaptação de alguma das histórias de Conan Doyle eu penso que o director - um improvável Guy Ritchie - não teria essa liberdade.

Guy Ritchie, que eu só tinha visto fazer filmes bastante fracos, nunca seria a minha primeira escolha para dirigir um filme destes. Contra todas as minhas expectativas, revelou-se mais hábil e inteligente na direcção do que em qualquer outro dos seus trabalhos (pelo menos, aqueles que eu conheço). Apreciei algumas das suas opções, como a dissonância entre a época histórica e as atitudes das personagens, ou o uso da câmara lenta em certos momentos. Contudo, o filme assenta grandemente na qualidade e performance dos dois actores principais. Robert Downey Jr. está no melhor momento da carreira e foi uma aposta segura para dar vida a um Holmes arrojado, mais próximo de uma figura de acção com uma ponta de génio louco do que de um intelectual puro que analisa factos friamente. Jude Law, que deu vida ao Dr. Watson, é igualmente bom e ambos são excelentes quando contracenam juntos. O Watson de Law, de resto, continua a ser, como sempre foi, mais convencional e cauteloso que o seu companheiro de aventuras, fazendo um contraponto agradável com a personagem central do filme. No elenco secundário, Mark Strong é um vilão carismático e Rachel McAdams dá um suporte adicional quando ele é preciso, mas foi bastante pouco aproveitada.

Tecnicamente, é um filme que usa e abusa de CGI, efeitos visuais, tela verde e efeitos de som de qualidade satisfatória, bastante regular e sem nada extraordinário. É algo comum num filme pensado para ser um blockbuster. As cenas de acção e luta foram bem feitas mas não chegam a cortar a respiração. A fotografia procurou ser sombria, talvez em resultado da nossa concepção da Londres Vitoriana como uma cidade enevoada e húmida. Isso resultou na maioria do filme mas há momentos em que isso foi demais. O trabalho de pós produção e edição foi regular e a banda sonora, composta por Hans Zimmer, não foi tão bem conseguida quanto muitas outras do mesmo compositor. Pelo menos a mim, soava demasiado como uma canção de marinheiros.