Ninfomaníaca: Volume 1 (2013)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 7 outubro 2018

Seria aborrecido se não tivesse tanto sexo.

Ao contrário, talvez, da maioria do público, decidi ver este filme por causa do nome do seu diretor, Lars von Trier. Eu gostei de "Anticristo", mas ainda não sei bem o que pensar deste filme. O roteiro é a história de uma mulher, Joe, que se auto-rotula de ninfomaníaca, e cuja busca pelo prazer parece ter ido longe demais, a ponto que ela acredita que é um ser humano desprezível. Quando ela é encontrada desmaiada após uma tareia, conta a sua vida ao bom homem que a ajudou. A partir daí, o filme desdobra-se em duas formas inter-comunicantes: a vida dissoluta da jovem e a troca de comentários entre ela e o bom samaritano, Seligman.

O filme está carregado de sexo explícito, com tudo o que isso significa, incluindo cenas de nú frontal, close-up dos genitais e cenas de penetração. Von Trier permanece fiel à regra de mostrar tudo o que é falado, de forma nua e crua. Portanto, o filme exige que você seja, pelo menos, capaz de não se escandalizar com isso. Por outro lado, as cenas de sexo são tão cruéis e insensíveis que você provavelmente não terá qualquer prazer em vê-las. Este não é um filme pornográfico, feito para excitar o público, mas sim para o efeito oposto: tal como Joe, não sentimos nada. Emocionalmente violento, o filme levanta questões morais e éticas constantes sobre religião, psicologia, relacionamentos etc.

Embora não seja o melhor desempenho de sua carreira, foi um bom trabalho de Charlotte Gainsbourg. A actriz teve de ter coragem para embarcar num projectos destes. Ainda positiva foi a performance de Stellan Skarsgård. Ambos me pareceram muito compenetrados. Os diálogos variam da obscenidade mais brutal à monotonia de discussões filosóficas estéreis. Joe e Seligman não podiam estar em pólos mais opostos: ela é uma mulher que vive para o seu vício, de uma maneira que achamos repreensível; Seligman é absolutamente puro e inocente, na medida em que não faz nada mal, é virgem e vive num mundo de livros e de música clássica. Uma Thurman parece estar no meio. Ela é a actriz mais violenta e intensa do filme, em que dá vida a uma mulher traída, que viu a sua vida destruída por uma "lolita". E assim, a forma emotiva e explosiva como ela se comporta aproxima-a mais de nós do que qualquer outra personagem.

Eu gostei dos actores e do trabalho deles, acho que combina com o filme e as personagens. Gostei da forma como o tema foi apresentado, com o pecador a fazer uma confissão contrita para um homem que parece estar acima dos mortais. Mas o filme é danificado pela ausência de arte, pela monotonia dos diálogos, pela perversão do sexo e pela omnipresença de cenas de sexo sem sentido por toda a parte.