Versos de um Crime (2013)

Written by Filipe Manuel Neto on October 1, 2018

Uma apologia gay com personagens desagradáveis e uma trama fastidiosa.

Este é um daqueles filmes que só entendi depois de pesquisar sobre ele. Tudo começa quando Allen Ginsberg se une à prestigiada e ultra-conservadora Universidade de Columbia, durante a Segunda Guerra Mundial. Lá, ele encontrará um grupo de amigos pouco convencionais, com prazer em quebrar regras e confrontar as autoridades. Deste embrião, como vim a descobrir, nasceu a "Beat Generation" (nunca tinha ouvido falar).

O roteiro, no entanto, parece indeciso. Eu nunca fui capaz de descobrir se o filme é sobre a "Geração Beat" ou simplesmente sobre Allen Ginsberg, a maneira como ele conheceu os seus amigos e o homicídio ligado a eles. Essa indefinição tornou o filme tedioso, com muitos momentos mortos que teriam sido cortados se houvesse alguma certeza sobre o tema. John Krokidas não conseguiu direccionar o filme para um objetivo claro e definido. Ele só filmou e filmou...

Outro problema deste filme são as personagens. Tudo gira em torno de Ginsberg, a única personagem verdadeiramente bem construída. Todas as outras são esboços e rascunhos, e a maneira como os actores trabalharam não ajudou a mitigar isso. Dane DeHaan é um estranho para mim, mas deu sinais de talento e conseguiu mostrar profundidade psicológica. Porém, a sua personagem é demasiado iconoclasta e desagradável para eu me importar com isso, e o mesmo pode ser dito de todas as outras. Daniel Radcliffe, que ficou com o papel principal, tem muito talento e é o melhor actor aqui, mas a personagem dele é igualmente desagradável. Outro problema aqui foi a sensação de que o filme faz uma espécie de apologia e publicidade à homossexualidade, algo que definitivamente não aprovo. Sei que o pensamento dominante da nossa sociedade tende a aceitá-la como uma forma diferente de amor, mas tenho o direito de discordar e pensar de outra forma sem que ninguém seja capaz de me tratar mal por isso. Nós não devemos viver em ditaduras mentais em que o mainstream dita os pensamentos e opiniões que devemos aceitar. Infelizmente isso acontece, e estas apologias acabam por se parecer muito com propaganda subliminar do fascismo ou comunismo, usada por regimes autoritários que a maioria das pessoas condenam. Até que ponto, usando a capa da nossa democracia e mídia de massa, a sociedade nos força a aceitar opiniões ou a ficarmos calados se discordamos delas? É uma questão retórica, mas pertinente.

A título de conclusão, digo que esperava algo mais deste filme. Um roteiro mais focado e orientado teria sido melhor. Uma abordagem mais neutra e natural da sexualidade das personagens teria removido o sabor apologético e propagandístico que mencionei. Personagens mais elaborados, capazes de criar empatia com o público, teriam resultado em maior envolvimento deste e aumentado o nosso interesse pela trama. É um filme cansativo, que só aqueles que apreciam a contra-cultura ou o movimento Beat apreciarão. Sobre o crime que o filme retracta, fiquei com a sensação de que é um mero detalhe do enredo.