Laranja Mecânica (1971)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 13 maio 2018

Brutal, sexual, gráfico e horrendo. Se este é um dos melhores filme de sempre, nem quero ver o pior.

Eu nunca gostei deste filme. É baseado num livro que eu não li e nunca encontrei à venda, então não posso julgar se foi fiel ao livro. No entanto, a maioria das pessoas parece ter uma opinião consensual de que este filme é brilhante e um dos melhores já feitos.

É incómodo pela própria natureza pois aborda temas brutais. Basicamente, fala da mais extrema violência e das possíveis maneiras de a controlar, através da lavagem cerebral ou controlo absoluto sobre as pessoas. É um mundo que ninguém realmente quer. Se a violência é algo que condenamos, a ultra-violência é repugnante. O condicionamento total de uma pessoa lembra-nos do tempo da escravidão e do homem como objecto. São ideias que a nossa civilização, a grande custo, aprendeu a recusar. Esses temas fariam um excelente filme e este filme teria sido óptimo se não exagerasse, em cenas desnecessariamente gráficas! E o filme piora à medida que mostra ao público a abundante explosão de destruição, acompanhada - surpresa, ou talvez não - por cenas de nudez e sexo quase explícito.

Stanley Kubrick encheu a grande maioria dos seus filmes com doses generosas de sangue e sémen. Ele sempre pareceu obcecado com isso, e tenho certeza de que Freud faria uma análise bastante interessante dele, então por que seria diferente a sua "magnum opus"? No meio de todo este monumento à loucura, devemos reconhecer que o filme aborda um assunto complexo e tem uma história boa, embora seja tão abjeto que acaba por não valer o esforço para ver. Talvez no futuro alguém com coragem refaça o filme de maneira mais contida, sem exageros. Também quero enfatizar o excelente desempenho de Malcolm McDowell. O actor, ainda relativamente jovem, chegou ao limite, aceitando coisas que eu, no lugar dele, não aceitaria, e conseguiu manter o nível interpretativo e o brilho. Por isso, merece parabéns.

Do ponto de vista dos detalhes e técnica, é possível que este seja um dos melhores filmes já feitos. Mas ficamos chocados demais para o apreciar. E a verdade é que o cinema não é só técnica. O público não enche as salas para admirar a maneira como a câmara se move, a cor e a luz da cinematografia, a qualidade da caracterização. A essência de qualquer filme é a história contada e, neste caso, é a história de um pesadelo. A concepção de uma obra de arte cinematográfica precisa, necessariamente, de chocar ou causar erecções? No passado, a arte era beleza e perfeição, e ainda penso na arte dessa maneira. A arte agora tem que ser deformada, sexual, pornográfica e sangrenta? Esta arte é o pálido reflexo de nossa sociedade bárbara ou é meramente o reflexo da mente aparentemente distorcida de seu criador?