Fim dos Dias (1999)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 24 fevereiro 2018

Acção e suspense num filme que nem é de terror nem deixa de o ser.

À medida que nos aproximamos do fim do milénio, o Diabo procura cumprir as profecias sobre o nascimento do Anticristo e procura uma noiva em Nova Iorque. Dirigido por Peter Hyams, com roteiro de Andrew W. Marlowe, este filme tem Arnold Schwarzenegger, Gabriel Byrne e Robin Tunney nos papéis principais.

Um dos últimos filmes do milénio, aborda precisamente as profecias apocalípticas sobre a chegada do ano 2000. É um filme bastante sombrio que põe o público em suspenso desde o início. A fotografia soturna ajuda a amplificar esses sentimentos. Com a maioria das cenas à noite ou em dias nebulosos e chuvosos, Nova Iorque surge retractada como uma decadente "cidade do pecado". A personagem mais sombria é, sem dúvida, o Diabo, mas o agente da polícia que luta contra ele (interpretado por Schwarzenegger) também tem de enfrentar os seus próprios demónios interiores: o álcool, uma depressão profunda, a falta de fé e a falta de autoconfiança vão transformar o filme num duplo combate, físico e psicológico.

O filme tem grandes cenas de acção que, estranhamente, coabitam com cenas mais pesadas, quase de terror. Na verdade, esta é a maior falha do filme: vive num dilema permanente entre assumir-se como um filme de terror ou manter-se como um thriller sombrio, de acção e suspense. Não podemos dizer que é uma coisa ou outra. É um híbrido que acaba por desagradar facilmente ao público que quer apenas um (particularmente os amantes do terror, já que o filme nunca nos assusta verdadeiramente). O clímax é muito interessante, faz bom uso dos efeitos visuais e sonoros, consegue surpreender e não ser previsível, mas alguns dos efeitos (o monstro) são tão "cliché" que, com a sua extravagância, destroem o que era bom.

O trabalho dos actores é bom. O filme marca o fim de uma década de comédias na carreira de Schwarzenegger, e ele parece convincente no seu papel, dando outra prova de versatilidade. Ele queria mostrar que não é só um monte de músculos e conseguiu-o. Robin Tunney parece um pouco idiota e histérica no papel de Christine. Byrne fez um diabo muito interessante, muito calmo e frio, capaz de arrancar calafrios através do olhar. A banda sonora não se destaca particularmente, com excepção do "Agnus Dei", o tema principal, combinando acordes incidentais com pequenos arranjos de canto gregoriano.