A História de uma Freira (1959)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 24 fevereiro 2018

Devia ser mais visto pelo público actual.

Este filme mostra a vida de uma freira belga, desde o momento em que ela entra para o convento e através de sucessivas crises de vocação e uma missão no Congo Belga. Dirigido por Fred Zinnemann, o filme tem um roteiro de Robert Anderson, baseado num livro de ficção de Kathryn Hulme. O elenco é liderado por Audrey Hepburn, no papel principal.

Apesar de ter sido nomeado para oito Óscares (Melhor Imagem, Melhor Actriz, Melhor Director, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Som, Melhor Cinematografia a Cores, Melhor Banda Sonora e Melhor Edição), este filme foi ignorado pelas pessoas nas últimas décadas, o que faz com que seja um dos menos conhecidos da longa carreira de Audrey Hepburn. Claro, muitas pessoas pensam, ao ler o título, que é pura propaganda católica, e talvez seja por isso que não é muito conhecido. Mas este filme está longe de ser propaganda apesar de mostrar, com precisão, o modus vivendi de uma freira no início do século passado. Acompanhar a época é muito importante para entender o filme, que se passa no período entre o final da Primeira Guerra Mundial e o arranque da Segunda Guerra Mundial. Também ajuda a entender uma coisa que o filme não nos diz, mas que qualquer pessoa nota depressa: o modo de vida das freiras que vemos do filme caiu em desuso há décadas devido à enorme modernização que a Igreja Católica sofreu, principalmente após a aplicação do Concílio Vaticano II.

O roteiro é excelente, embora não seja, como algumas pessoas pensam, uma história verdadeira. Grande parte do filme é ficção inspirada por factos reais, mas não deixa nunca de ser ficção. É uma história de sacrifício, amor, superação, vocação e paixão por uma profissão: medicina. É sempre com o foco na medicina que a jovem entra para o convento e se torna religiosa. Mas é também um filme sobre dúvidas, conflitos internos e pessoas que tentam ser melhores ao enfrentarem as suas falhas e a sua humanidade. Audrey Hepburn brilhou como Gabrielle/Irmã Luke, e o seu rosto bonito deu-lhe uma aparência quase angelical e uma presença verdadeiramente poderosa. A maneira como ela contracena com Peter Finch, que fez um médico do Congo com ideias muito específicas e quase sem fé, é deliciosa. Os cenários são muito bons, recriando bem o ambiente religioso e a África quase selvagem, onde os europeus foram pioneiros naqueles anos.

Decididamente, este filme é digno de ser visto com mais frequência pelo público actual. O final é um dos mais incríveis que eu já vi, por dois motivos: primeiro é absolutamente silencioso e sem música; segundo, depois de ver esta freira sofrer tanto pelos seus sonhos, é impossível para ela não ganhar o carinho do público, por isso o fim torna-se difícil de aceitar.