O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 21 fevereiro 2018

Um dos melhores filmes jamais feitos na Europa.

Amélie é uma jovem ingénua que cresceu isolada do mundo. Como adulta, ela muda-se para Paris, para trabalhar, e logo muda a maneira como vê o mundo, começando a tentar melhorar a vida das pessoas através de pequenos actos de bondade. Dirigido por Jean-Pierre Jeunet e com diálogos de Guillaume Laurant, revelou ao mundo o talento de Andrey Tautou.

O cinema europeu nunca teve o capital e visibilidade dos filmes americanos. Falta o dinheiro, força e marketing das corporações de Hollywood, capazes de dar milhões a um filme, com o merchandising e publicidade que isso implica. Mas às vezes essa carência revela-se uma qualidade para o cinema europeu, que se concentra mais na qualidade, no esmero artístico e na beleza do que na bilheteira. Este filme, excepcionalmente belo, deve ter sido um caso desses. O que impressiona mais é a beleza do enredo e a performance de Tautou, que deu aqui uma gigantesca prova de talento, numa personagem difícil a que conferiu uma alma autêntica. É raro ver um filme com tanta beleza, valores positivos e bons pensamentos, como um conto de fadas do nosso tempo. Os figurinos são muito bons e combinam com o cenário romântico de Paris. A fotografia é uma das mais originais e únicas que eu já vi no cinema recente, graças à iluminação e à cor. Outro item valioso é a banda sonora incrível, assinada por Yann Tiersen, e que é impossível não saber de cor.

Actualmente, a indústria cinematográfica deixa pouco espaço para o filme como obra de arte. Por isso, é bom ver um filme que favorece o lado artístico no conceito mas também alcança o sucesso comercial devido à sua qualidade. Emocionante, profundo e belo, este filme é arte pura e merece um lugar entre os melhores filmes já feitos na Europa. É lamentável que existam tão poucos assim, e é lamentável que os principais prémios da indústria tenham pouca preocupação por isso. Este filme ganharia muitos Óscares se tivesse sido feito nos EUA e tivesse uma firma multimilionária por trás, mas não era o caso...