007 Contra GoldenEye (1995)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 20 fevereiro 2018

Uma adaptação a novas realidades.

Dirigido por Martin Campbell e produzido por Barbara Broccoli (a filha de Albert Broccoli, que sai por razões de saúde), é o décimo sétimo filme da franquia. Neste filme, Bond combate contra Janus, um poderoso criminoso que roubou uma arma russa de destruição em massa, o Goldeneye. Para o parar, alia-se a Natalya, especialista russa que trabalhava no projecto Goldeneye antes de ele ser roubado.

Feito após uma lacuna de seis anos, devido a problemas legais com firmas que tinham direitos sobre a franquia, é um filme muito diferente de quase tudo o que vimos nos anos Oitenta. Para começar, é o primeiro filme a ser lançado depois do fim da União Soviética, numa época em que não só a franquia mas até a existência de espiões na vida real foi posta em causa, dada a sensação que se ia instalando de acalmia e de "apaziguamento" entre blocos, até então, divergentes. Bond enfrentava, a necessidade de se readaptar como fizera nos anos Setenta. Para além desta questão importantíssima, este filme foi o primeiro com Pierce Brosnan a assumir o papel principal, após a saída de Timothy Dalton. Apesar das dúvidas, Brosnan assumiu seriamente o papel e a tarefa de levar a sua personagem a uma nova era. Não foi a única renovação: é também com este filme que a grande actriz Judi Dench entra para a franquia, para ocupar a secretária de M, o chefe do MI6. E a verdade é que o serviço secreto nunca tivera antes uma chefe tão sarcástica e ácida como Dench. É a primeira vez que o chefe do MI6 assume papel forte no enredo e mostra pouca apreciação por Bond, considerando-o uma relíquia do passado e descartável, o que parece espelhar algumas das críticas à franquia na época. Isto, contudo, pode também ter sido uma manobra para tornar a franquia menos misógina, uma crítica que lhe era frequentemente feita pelo modo como as mulheres vinham sendo tratadas nos filmes anteriores. A forma como a bondgirl deste filme, interpretada por Izabella Scorupco, se comporta e age também ajuda a suavizar esse defeito: longe de ser só um objecto sexual ou um meio para atingir um fim, Natalya é uma mulher inteligente e forte, que vai provar ser uma aliada de peso para 007 e não apenas mais uma conquista. De resto, Samantha Bond assume o papel de Miss Moneypenny, Joe Don Baker faz de Jack Wade, Robbie Coltrane fica com o papel de Valentin Zukovsky, Alan Cumming o papel de Boris, Famke Janssen deu vida à fatal Xénia, Gottfried John fez de general Ourumov e Sean Bean foi o vilão, Alec Trevelyan. Após tantas mudanças, entradas e saídas, fica a pergunta: há algum actor dos filmes anteriores que tenha ficado para fazer este filme? Ficou Desmond Llewelyn, o eterno Q. E que bom é rever este actor, filme após filme, a mostrar-nos as engenhocas das quais Q tanto se orgulha!

Embora não seja dos melhores filmes, "Goldeneye" soube actualizar e re-formatar Bond para um novo tempo, dar-lhe novamente a actualidade necessária para sobreviver e continuar a ser pertinente. Os locais escolhidos são excelentes e algumas das cenas são dignas de antologia. É o caso da sequência do tanque em São Petersburgo ou da luta final na antena. O roteiro é bom e gira em torno do fim da URSS e dos seus "restos", não só de armamento mas também de pessoas como Bond e Alec, marcadas por décadas de Guerra Fria. O inimigo passa, assim, à obscuridade, com o crime organizado e o terrorismo a lucrarem à custa do fim do status quo. O tema de abertura, cantado por Tina Turner, é um dos melhores da franquia.