Batman Eternamente (1995)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 18 fevereiro 2018

É melhor esquecer este filme.

Os dois filmes "Batman" e "Batman o Regresso" renderam centenas de milhões de dólares. Não importa se eu gosto desses filmes ou não, a verdade é que o público pagou para ver, o dinheiro entrou e muitas pessoas gostaram ao ponto de voltar para mais. A verdade é esta. Por isso, e tendo em mente mais um "blockbuster", a Warner Brothers lançou este terceiro filme. Contudo, Tim Burton cansou-se e voou para outros desafios pelo que, desta vez, a cadeira é ocupada por Joel Schumacher. De facto, este filme cometeu o pecado capital de qualquer continuação em cinema: uma remodelação geral do elenco e da equipa técnica. Com tanta dança de cadeiras, a continuidade entre filmes foi irremediavelmente afectada e essa é uma das melhores características de qualquer continuação. E se as coisas já eram esquisitas com Burton, este director vai colocar a cereja em cima do bolo.

Tim Burton tem o condão de pegar num filme estranho e fazer com que funcione, ainda que não gostemos depois. Mas foi um erro tentar fazer um filme "à Burton" sem Burton. Este director simplesmente não tem pulso nem parece saber o que quer. Por exemplo, os filmes anteriores eram todos muito sombrios e distópicos, tanto que eu o critiquei fortemente por isso. Mas pelo menos havia alguma coerência, era tudo concebido e idealizado nessa linha de pensamento. Aqui isso não acontece: a coerência é destruída pela inserção de Enigma, uma personagem estridente interpretada por Jim Carrey... e todos sabemos como este actor por vezes mais parece o Carnaval do Brasil concentrado numa só pessoa. O homem põe-se aos saltos, grita, ri histericamente, faz trinta por uma linha mas nunca parece sombrio nem intimidativo. Foi um erro conceber a personagem assim, embora Carrey seja o tipo certo para a personagem, da forma como ela está pensada.

Se os filmes anteriores abusaram na dose de irrealismo, este mostra uma realidade que parece encharcada em ecstasy e anfetaminas: a falta de realismo dos cenários e figurinos é tal que parecem ter saído da imaginação de um usuário de substâncias psicadélicas. O roteiro também não ajudou: absolutamente miserável, usa e abusa de estereótipos e clichés, não passando de um conjunto de retalhos escritos por mãos diferentes. Não dá para conceber uma história com pés e cabeça com este material. Quanto aos actores muda tudo, incluindo o protagonista, com a saída de Michael Keaton e a entrada de Val Kilmer. Tommy Lee Jones e Nicole Kidman, também por aqui estão. Mas o elenco até tentou fazer um bom trabalho, dando-nos interpretações razoáveis. São bons actores, já brilharam noutros filmes antes e depois deste desastre pelo que, se alguma coisa falhou, eu aponto mais depressa o dedo à incompetência do director do que a um destes actores.

Mas fica a pergunta: tem este filme algo de bom? A resposta é sim: a crítica social feita com o personagem Enigma, que usa a comunicação social como um meio para controlo mental de massas, numa manobra que quase se aproxima da realidade dos meios de comunicação de massa actuais, onde basta uma palavra para nos influenciar a pensar de uma forma ou de outra sobre determinado tema. Só que, sinceramente, não me parece uma justificação cabal para ver este filme. Não vale a pena vê-lo só para ver isso.