Big Game - Instinto Caçador (2015)

Verfasst von Filipe Manuel Neto am 1. Mai 2023

Uma americanada feita por Finlandeses e ambientada na Finlândia não deixa de ser uma americanada.

Hollywood já nos habituou a filmes onde a figura sacrossanta do Presidente dos EUA é alvo dos mais bárbaros ataques, dos mais sanguinários inimigos e de mil e um atentados. Muitas vezes, o presidente é suficientemente capaz de se desembaraçar, com a ajuda indispensável dos seus militares e agente secretos. Noutras ocasiões, todavia, ele torna-se numa espécie de donzela em perigo. Este tipo de filme é muito agradável, principalmente para o público americano, por apelar ao patriotismo mais primário e colocar, frequentemente, os EUA como uma espécie de pivô do Ocidente, grande defensor das democracias e campeão das liberdades, ignorando toda a sorte de atrocidades que os EUA têm feito contra os outros países para defesa de interesses económicos e políticos que têm muito pouco a ver com a democracia ou a liberdade.

O que este filme faz é essencialmente pegar num filme destes e colocá-lo na Lapónia, um lugar distante da Finlândia que as pessoas comuns só conhecem por ser a terra onde o Pai Natal vive e trabalha. E bem poderia ter sido o Pai Natal a sair em socorro do presidente em perigo… mas desta vez, a vida do paladino da liberdade está nas mãos de uma criança finlandesa, armada de um arco e uma aljava de flechas. Um pequeno caçador que conhece as florestas, os sons da caça, as técnicas para sobreviver, mas que vai ter de enfrentar um grupo de homens armados.

Até onde sei, foi o primeiro filme finlandês que vi, ainda que se trate de uma co-produção em que os EUA apostaram muito e que é quase inteiramente falada em inglês. Dirigido por Jalmari Helander, um director que conseguiu internacionalizar-se e trazer um pouco do seu país para a senda do cinema internacional (faltam-nos homens assim no cinema português), foi um filme divertido e que teria sido melhor se tivesse mais cenas em finlandês. Eu não sei se a maioria do povo deste país é fluente em Inglês, como aquele menino, mas tamanha fluência numa língua estrangeira – ainda que seja a língua mais franca da actualidade – parece-me pouco credível num rapaz tão jovem. E seria uma boa notícia se esta fosse a única situação pouco crível aqui, mas infelizmente o filme está cheio de momentos em que a plausibilidade foge porta fora.

Gostei do trabalho de Samuel L. Jackson. Ele é um actor extremamente competente para toda a sorte de personagens de acção e tem um carisma extraordinário que aproveita muito bem no filme. Apesar de não ser, propriamente, o protagonista, ele assume um certo protagonismo na história, não se deixando capturar sem dar luta e sem resistência, e estabelecendo uma óptima colaboração com o jovem actor Onni Tommila, que ficou com a personagem do herói que o vai ajudar. Os dois actores são, a bem dizer, os únicos que merecem uma nota de destaque. Ainda podemos acrescentar Ray Stevenson, mas eu senti por várias vezes que o actor parecia estar a lutar com o material que lhe foi dado, e Jim Broadbent não tem muito o que fazer aqui.

A melhor coisa em todo este filme é ser divertido de ver, especialmente para quem gostar dos filmes de acção exagerada ao estilo norte-americano. Está cheio de cenas de acção, momentos exagerados e cenas heróicas, e isso torna-o, pelo menos, capaz de nos entreter. Claro, isso não significa que é um bom filme. Não é um bom filme. Falta inteligência, falta lógica, faltam cenas em que sejamos capazes de ver a verdadeira Finlândia e não os Alpes Franceses, faltam efeitos visuais e especiais realmente credíveis e dignos desse nome. Falta, por fim, uma banda sonora menos presunçosa e estridente, e mais harmónica. Sibelius provavelmente deu uma volta no seu túmulo ao ouvir a banda sonora deste filme.