O Enviado (2004)

Written by Filipe Manuel Neto on April 11, 2021

Muito potencial, mas falta tensão e ‘suspense’.

Neste filme, um casal vê a sua felicidade desfeita com a morte repentina do seu único filho, após um acidente. É então que aparece um médico que sugere usar a genética para lhes devolver o filho perdido através da criação de um clone. Seria uma experiência arriscada, altamente secreta e eticamente questionável, mas eles aceitam e mudam toda a vida deles. As coisas correm bem, até ao dia em que a criança começa a ter um comportamento assustador e perturbador para os seus pais.

Sinceramente, este filme fez-me lembrar um pouco Sexto Sentido, na medida em que é um filme que parece incrível da primeira vez que o vemos, mas começa a tornar-se desinteressante a cada nova visualização sem, contudo, deixar de ser bastante bom na tarefa difícil de entreter o seu público sem que ele dê por mal gasto o seu tempo. Ambos os filmes costumam, também, ser considerados terror, mas eu não os consigo ver como tal. Nick Hamm é eficaz na tarefa de abordar um tema controverso e o pintar com cores sinistras, criando uma história digna de um pesadelo, mas não sabe construir a tensão necessária para tornar o filme eficiente como thriller, nem é capaz de nos fazer sentir medo. A construção das personagens é bastante rudimentar e não senti verdadeira empatia por nenhuma delas em particular.

O elenco é pequeno e é absolutamente dominado pelo trio De Niro, Kinnear e Romijn. Robert De Niro é bom no papel do médico e deixa um trabalho extraordinariamente contido para o actor, que parece ter apetência por personagens extrovertidas e de personalidade vincada. Mesmo assim, e talvez por isso, não pude deixar de sentir que o actor não estava totalmente a vontade com a personagem. Kinnear e Romijn apresentam-nos um trabalho de intensa colaboração. Até onde percebi, são poucas as cenas onde os dois actores estão verdadeiramente separados, em locais, situações e contextos distintos. Apesar dessa colaboração estreita e da forma como as suas personagens parecem estar umbilicalmente ligadas, a química como par romântico é nula. Cameron Bright, que deu vida ao jovem Adam, fez um trabalho muito calmo e cumpriu o seu papel muito bem.

Tecnicamente, é um filme padrão. A cinematografia não apresenta nada de particular, fazendo o seu trabalho discretamente. Os cenários e figurinos são bons, com a clínica médica a merecer destaque pelo aspecto moderno e tons brancos, sugerindo limpeza e ciência, mas também o tão clássico ambiente hospitalar. Outro cenário que merece nota positiva é a velha escola católica, um edifício antigo, depredado e decadente onde tudo parece levar-nos para o terreno do horror clássico de casa assombrada. A banda sonora é eficaz, porém totalmente esquecível.