O Aviador (2004)

Escrita por Filipe Manuel Neto em 23 julho 2020

Excelente.

Há poucas personagens históricas que tenham uma vida tão intensa e interessante quanto o excêntrico e controverso Howard Hughes. Começou por herdar uma firma de ferramentas mas a sua paixão pela aviação levou-o a outros voos, bem mais altos e notáveis, transformando-o num dos pioneiros da aeronáutica e, também, do cinema falado. Este filme é verdadeiramente luxuoso em todos os aspectos e é, provavelmente, um dos filmes que vai marcar a carreira de Di Caprio.

Creio que não vale a pena falar muito mais acerca do enredo deste filme, que começa com os esforços de Hughes para filmar “Anjos do Inferno”, primeiramente como filme mudo e, depois, como um filme sonoro, uma superprodução que custou rios de dinheiro ao milionário. O filme mostra, também, as ligações amorosas de Hughes a actrizes de renome como Katharine Hepburn ou Ava Gardner, as investigações do Governo dos EUA aos dinheiros públicos que lhe foram dados para fabricar aviões militares que nunca chegou a entregar, a criação e expansão da companhia aérea TWA e, finalmente, os distúrbios psicológicos de que Hughes padecia, e que estavam relacionados com uma grave forma de fobia a germes e doenças.

O filme foi habilmente dirigido por Martin Scorsese, e conta com um luxuoso elenco liderado por Leonardo Di Caprio, num dos papéis mais interessantes e ricos da sua carreira, que já por si é invejável a todos os níveis. O actor esforçou-se e empenhou-se profundamente no retracto psicológico do milionário que, aos poucos, vê a sua energia e empreendedorismo minados pela crescente fobia. Ao seu lado está Cate Blanchett, no papel da voluntariosa actriz Katharine Hepburn. E aqui, sinceramente, não sei bem o que pensar. Conheço mal a actriz, não sei se o que Blanchett fez foi realmente fiel ao retracto da actriz, mas achei que por vezes parecia um pouco uma caricatura. De qualquer modo, ela ganhou o Óscar de Melhor Actriz Secundária, o que deve indicar alguma coisa. Kate Beckinsale também faz uma aparição interessante no papel da jovem Ava Gardner enquanto que Alec Baldwin e Ian Holm foram boas adições e cumpriram bem com o que lhes foi pedido.

Tecnicamente, o filme tem altos valores de produção e imensa qualidade. A cinematografia é excelente e há bastante CGI envolvido, sempre de boa qualidade e bastante realista. O filme ambienta-se essencialmente nas décadas de 30 a 60 do século passado, pelo que os cenários e os figurinos fazem, acertadamente, um esforço para corresponder a essas mudanças e pôr em cena os adereços correctos. A banda sonora merece, também uma menção especial porque não só tem sentido épico e aventureiro como fica facilmente no ouvido.