As Crónicas de Nárnia: A Viagem do Caminheiro da Alvorada (2010)

Written by Filipe Manuel Neto on February 20, 2018

Homicídio (qualificado) de um livro.

Este filme é a adaptação de um livro C.S. Lewis. Neste filme, Lucy e Edmund Pevensie voltam para Narnia, pela última vez, acompanhados por um primo inconveniente e irritante chamado Eustace, para ajudar Caspian a encontrar sete Cavaleiros de Telmar que o seu pai enviou para explorar o mar e que desapareceram. Dirigido por Michael Apted, o elenco foi liderado por Georgie Henley (Lucy), Skandar Keynes (Edmund), Ben Barnes (Caspian), Will Poulter (Eustace) e também conta com as vozes de Eddie Izzard (Reepicheep) e Liam Neeson (Aslan).

"Crônicas de Nárnia" é uma trilogia que começou mal e só piorou. Se os dois primeiros filmes foram maus devido à incapacidade de explorar adequadamente os livros e à incompetência do director e da equipa de argumento, foram contudo capazes, pelo menos, de compensar isso de alguma forma e tornar o filme digerível através da aposta na qualidade do elenco e das interpretações de cada actor, bem como numa consciente aposta em questões visuais como os excelentes figurinos, efeitos visuais e especiais, cenários ou fotografia. Isto é, os dois primeiros filmes eram maus por um lado, mas bons por outro. Nós conseguíamos esquecer ou perdoar as falhas na adaptação do filme e rendermo-nos minimamente à beleza do que estávamos a ver. Este filme não! Este filme atropelou C. S. Lewis como um comboio e reescreveu a história toda. Eu não sei, não estava presente, mas era capaz de apostar que o culpado foi Michael Petroni, um dos argumentistas deste filme, autor da bela porcaria (para não dizer outra coisa que cá pensei) de argumento do filme "A Rainha dos Malditos", e no qual o mesmo erro é cometido. Mas se o Sr. Petroni adora destruir livros em filmes os demais membros da equipa de argumento são, no mínimo, cúmplices neste "homicídio qualificado" de um livro. Além da reescrita da história, o filme tem outras falhas: os efeitos especiais não são convincentes e o clímax é uma luta incomum contra uma ilha, o que não faz sentido nenhum nem o filme tenta explicar.

Este filme, no entanto, continua a ter elementos de qualidade ao nível dos cenários, guarda-roupas e, acima de tudo, das performances dos actores. Ben Barnes, em particular, melhorou muito a sua profundidade psicológica e agora não tem aquele sotaque canastrão que tinha no filme anterior. Absolutamente incrível foi Will Poulter, que fez uma excelente interpretação e mostrou que pode ser um excelente actor.